elza de oliveira souza
recife, pe — 1928
Rio de Janeiro, RJ — 2006
sobre
Elza de Oliveira Souza é uma artista plástica nascida no Recife e radicada no Rio de Janeiro, onde produziu a sua obra ao longo de mais de 40 anos. Filha de parteira diplomada e primogênita de 8 irmãos, Elza foi uma mulher de múltiplos talentos. Ainda em Recife, trabalhou como educadora de crianças e bordadeira de enxovais de bebê, lençóis e toalhas, além de exercer as atividades de dona de casa. Em 1948, muda-se para o Rio de Janeiro com o marido e também artista plástico Gerson Alves de Souza (1926 – 2008) após o nascimento de sua filha, e lá sua carreira artística começa a ganhar contornos. Em busca de um meio de expressão para seus talentos, Elza estuda teatro, canto lírico e balé aquático antes de se firmar na pintura. Incentivada por Gerson, que lhe ensina alguns fundamentos técnicos da pintura à óleo, a artista frequenta brevemente o curso de Ivan Serpa (1923 – 1973) no Museu de Arte Moderna do Rio (MAM – Rio) entre 1962 e 1963. A partir destas bases, a artista desenvolve seu próprio estilo e técnica de maneira independente.
A pintura de Elza é, sobretudo, antropocêntrica. Mais do que isso, as figuras retratadas por ela parecem de certa forma fazer parte de uma única família, tal a semelhança das feições – rostos ogivais, grandes olhos amendoados e curiosos, bocas longilíneas e com um discreto sorriso. Na maioria de suas obras, os personagens figuram sozinhos – quando aparecem em grupos, frequentemente existe um ar de tensão, de falas não-ditas que escapam pelo olhar, como se os retratados quisessem se movimentar pela superfície em busca de alguma solução. É notável a quantidade de obras da artista que são protagonizadas por mulheres, de diversas idades e ocupações, o que sugere a preocupação de Elza com a representação e o protagonismo do feminino na sociedade. Os ambientes que figuram em suas pinturas, de maneira similar à de outros artistas autodidatas e não-canônicos, geralmente revelam espaços interiores de uma casa ou da natureza. Esta última, quando aparece, não é mero plano de fundo: a artista dedica uma atenção notável aos detalhes das flores e folhas que circundam suas cenas. Para além da tela, Elza serviu-se de suportes alternativos como azulejos e telhas de barro.
Apesar de ter sido bem-sucedida como artista ainda em vida, Elza sempre teve sua pintura reduzida à classificação de naïf, o que invisibilizou muito a profundidade de seus personagens, das dinâmicas familiares retratadas e da própria vida da artista. Sua obra tem passado por um processo de redescoberta e valorização desde 2020, após a realização da exposição Mulheres na Arte Popular, organizada pela Galeria Estação com curadoria de Fernanda Pitta.